Movimento de Precessão Social – EaD, Distância Transacional e Pandemia: Uma Análise Discursiva.
Texto publicado no livro “Linguagens em perspectivas” disponível no site da Editora Parábola.
“A nossa geração está a inventar o mundo, o primeiro mundo verdadeiramente digital.” (Lévy, 2000, p. 18)
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No atual contexto educacional brasileiro, em tempos pandêmicos, a educação a distância (EaD) se destacou como alternativa para a continuidade das atividades de ensino em todos os níveis, desde as séries iniciais até o ensino superior. E o que antes era prerrogativa para cursos de graduação e pós-graduação cujo público se encontrava em regiões remotas do país, e também, para aqueles que mesmo nos grandes centros, tinham mobilidade e/ou o tempo comprometidos com as atividades corporativas, passou a ser um benefício necessário a todos e em quase todas as esferas de trabalho na sociedade, exceto saúde, segurança e atividades consideradas essenciais.
Importante lembrar que esse movimento de estar a distância não se restringiu às questões educacionais, mas também às atividades econômicas, políticas e sociais, envolvendo não só cenários educacionais, mas também cenários financeiros, impactando no modo de vida de muitos, desde indivíduos em pequenas esferas econômicas até instituições maiores, trazendo novamente, à tona, o termo “novo-normal”, cunhado por Mohamed A. El-Erian[3] em meio a crise financeira que eclodiu em 2008-2010 e que teria ameaçado a vida cotidiana, também, em proporções similares, ao que ameaçou em 2020, a pandemia causada pelo Covid-19.
Diante desse cenário, este artigo tem como objetivo refletir não só sobre uma nova condição do estar presente nas relações pessoais e de trabalho que se estabeleceram nesse novo ambiente digital, principalmente no contexto das atividades educacionais, quando do desencaixe da sua condição de existir somente no presencial para o de existir somente a distância, mas também o de retomar a discussão sobre o impacto da Distância Transacional[4] (DT), comum no ambiente da EaD. Porém, agora, sob uma condição emergencial em que passaram a se encontrar professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem. Vale ressaltar que reconhecemos a linguagem, considerada matéria do pensamento e o veículo da comunicação social, não só como sendo capaz de ir além de somente organizar a informação necessária à formação do indivíduo, mas também responsável por construir e explicar a realidade na qual vivemos.
1 CONDIÇÕES DE ANÁLISE
Antes de iniciarmos nossas reflexões compreendemos a importância de retificarmos o entendimento de alguns termos fundamentais para a exposição da linha de raciocínio adotada por nós na apresentação de um percurso observado como tendo seu início, no Brasil, em 1904, considerando o recorte inicial apenas no campo educacional e, chegando aos dias de hoje como sendo a única resposta possível ao cenário disruptivo que se apresentou em meio à pandemia: o percurso da EaD, mais precisamente o período de 1996 até os dias atuais.
Ponderamos que, para esse contexto, vale lembrar que concebemos como sendo EaD o já postulado por Moore e Kearsley (2013):
Educação a Distância é o aprendizado planejado que ocorre normalmente em um lugar diferente do ensino, o que requer comunicação por meio de tecnologias e uma organização institucional especial[5] [...] Essa definição engloba muitas expressões, que às vezes, geram alguma confusão. [...] Algumas pessoas usam a expressão “ensino a distância” [...] como nosso assunto foca o ensino e a aprendizagem, devemos usar o termo educação, que descreve corretamente uma relação que tem dois lados: o professor e o aluno. (2013, p. 2) (grifo nosso)
É importante ratificar esse conceito, visto que, em meio aos acontecimentos sociais desde o início da pandemia no Brasil, em meados de fevereiro de 2020, muitas foram as nomenclaturas criadas para dar conta do que seria a ação a ser tomada pelas instituições de ensino: i) aula remota, ii) aula EaD (aqui seria E de ensino, não de educação), iii) aula on-line, iv) aula-web entre outros, lembrando que, independente de como se configura uma aula em ambiente digital, ela é a distância, ou seja, o ponto sobre o qual se debruça nosso trabalho é que, independente de qual nome se utiliza, as aulas e/ou interações, síncronas ou assíncronas, elas todas são/estão a distância. Sabemos que houve uma urgência em nomear as condições de trabalho para melhor lidar com o novo cenário e assim não comprometer uma ideia já em curso, o do ensino a distância e o da própria EaD como sendo algo estruturado, organizado e pensado previamente, mas ora, qualquer atividade educacional, ainda que em tempos pandêmicos, é minimamente pensada previamente.
Com enfoque no Brasil, essa nova situação descortina um problema que há muito marca uma condição no país que não é apenas da EaD, mas da educação como um todo, considerando a amplitude do termo, buscamos em sua origem caminhos para discutir, mais adiante, o que denominaremos aqui como sendo um Movimento de Precessão Social (MPS):
Educação é a forma nominalizada do verbo educar. Aproveitando a contribuição de Romanelli (1960), diremos que educação veio do verbo latim educare. Nele, temos o prevérbio e- e o verbo – ducare, dúcere. No itálico, donde proveio o latim, dúcere se prende à raiz indo-européia DUK-, grau zero da raiz DEUK-, cuja acepção primitiva era levar, conduzir, guiar. Educare, no latim, era um verbo que tinha o sentido de “criar (uma criança), nutrir, fazer crescer. Etimologicamente, poderíamos afirmar que educação, do verbo educar, significa “trazer à luz a idéia” ou filosoficamente fazer a criança passar da potência ao ato, da virtualidade à realidade. Possivelmente, este vocábulo deu entrada na língua no século XVII.[6] (Martins, 2009)
Outro ponto importante em nossa análise é a retomada da observação da Distância Transacional (DT). Existe na EaD o que chamamos de Distância Transacional, teoria apresentada por Moore (1993, p.2) de que na EaD não há uma simples separação geográfica entre alunos e professores, mas sim, uma distância psicológica e pedagógica:
Educação a Distância não é uma simples separação geográfica entre alunos e professores, mas sim, e mais importante, um conceito pedagógico. É um conceito que descreve o universo de relações professor-aluno que se dão quando alunos e instrutores estão separados no espaço e/ou no tempo.
Para efeito de análise de cenário expandimos o uso desse termo, em um primeiro momento, para relação entre os indivíduos, saindo momentaneamente do âmbito educacional, visto que, tomarmos esse distanciamento facilitará a visão de que a DT está sobreposta em meio à pandemia, haja vista que não só a relação professor-aluno está no mote do processo de ensino-aprendizado, mas também, a maioria da sociedade se encontra em uma posição de aprendizado em que, o conteúdo a ser aprendido é o vivenciar sob novas condições de distanciamento, quase absoluto, dando conta de todas as atividades cotidianas, além das de trabalho, estudos e ainda, das relações e interação social. E é diante dessas considerações que urge observar que, com essa nova condição de distanciamento, a própria DT se altera em proporções imensuráveis, visto que, a equação para minimizá-la era maior autonomia, menor DT, e o que temos hoje é exatamente o contrário, perdemos em muito a autonomia sob vários aspectos. E é nesse contexto que, do ponto de vista da Análise do Discurso (AD), o desequilíbrio social gerado pela pandemia, desvela, fortemente, o que Maingueneau (2000, p. 19) define como campo discursivo:
“No universo discursivo, isto é, no conjunto dos discursos que interagem em um dado momento, a análise do discurso segmenta campos discursivos, espaços onde um conjunto de *formações discursivas estão em relação de concorrência em sentido amplo, delimitam-se reciprocamente [...] O campo não é uma estrutura estratégica, mas um jogo de equilíbrios instáveis entre diversas forças que, em certos momentos, move-se para estabelecer uma nova configuração. Um campo não é homogêneo: há sempre dominantes e dominados, posicionamentos centrais e periféricos” (Maingueneau, 2000, p. 19)
O que nos interessa dessa categoria de análise é observar os campos centrais e periféricos expostos, dominantes e dominados, em meio à pandemia e que por suas naturezas, compõem o que denominaremos mais adiante de Movimento de Precessão Social (MPS).
Maingueneau postula, também, que a “web transforma as condições de comunicação” (2010, p.35), ao analisarmos essa afirmação no contexto pandêmico temos que entender que toda a comunicação, atualmente, sofre efeitos da DT, ou seja, grande parte da interação social, hoje, no mundo, se dá no ambiente digital, ou seja, escrito, falado, e é “apreendido como um traço de uma atividade discursiva – oral, escrita, visual – relacionado a dispositivos de comunicação” (MAINGUENEAU, 2015, p. 37). Diante disso, dadas as distâncias físicas estabelecidas de forma contumaz, vale observar, como considerações iniciais do que iremos apresentar aqui, o que Lévy (2001) postula acerca da capacidade humana de lidar com reveses próprios da sua existência:
“A verdadeira inteligência do homem consiste em tornar a sua sociedade inteligente. Ela exprime-se por mensagens (que se dirigem a outras), por linguagens (cuja natureza é serem elo), por utensílios (susceptíveis de transmissão, de melhoria, de combinação e de utilização colectiva), por instituições (que implicam ou organizam o colectivo). A inteligência humana trabalha para a conexão. (p.49)
A sociedade humana, em evento de pandemia, começou a trabalhar para se conectar, ou melhor para se reconectar considerando distâncias que antes não existiam: o distanciamento físico, ainda que imposto por um motivo de força maior e coletivo, impacta nas relações sociais individuais. E o que abalou o mundo levou-nos a pensar, de forma significativa a ideia do estar presente, é preciso ressignificar o entendimento do estar presente, de interagir socialmente a distância nas variadas esferas da vida diária: estudo, trabalho, lazer, etc. Ressignificar a ideia de presença nesse novo cotidiano em que a pandemia colocou a sociedade nos leva a articularmos os pressupostos teóricos da AD na análise desse cenário e isso implica que buscamos entender o sujeito em meio a esse momento histórico, em um contexto amplo; e o ambiente digital como sendo um contexto imediato, por exemplo, as reuniões e/ou aulas realizadas via aplicativo Zoom. E a essa movimentação definiremos aqui como sendo uma espécie de Movimento de Precessão[7] Social (MPS). No âmbito da Física e da Astronomia, existe o movimento de precessão:
O termo precessão tem assim seu sentido original no fato de um equinócio preceder o outro de ano para outro. Em contraposição, seu uso atual é movimento de rotação do eixo principal de um corpo rígido (KRAPAS-TEIXEIRA, 1996, p. 176) (grifo nosso)
A palavra precessão, desde a antiguidade era usada para denotar a antecipação anual de um equinócio em relação ao outro, a partir de então tem seu sentido ampliado para o movimento cônico do eixo de corpos rígidos em rotação, de uma maneira geral, deixando de ter seu sentido relacionado apenas à terra e seus equinócios, que precedem um ao outro. (KRAPAS-TEIXEIRA, 1996, p. 177) (grifo nosso)
KRAPAS-TEIXEIRA[8] (1996) ao apresentar certo percurso do conceito, facilita não só nosso o entendimento, mas também nossa escolha ao transpor esse termo em uma analogia com a situação pela qual a sociedade, no mundo, passa, ou seja, grosso modo, um movimento que busca manter o equilíbrio entre viver em um mundo presencial e digital, ao mesmo tempo, readaptando atividades, criando cenários físicos para receber essa nova condição de trabalho, marcadamente remoto, cambaleando numa rede de novos significados, de novas percepções, principalmente o de presença. Ressignificando condições de existência em diversos âmbitos, na comunicação, nas relações pessoais, na forma de trabalho, na economia, na cultura de modo geral, fazendo com a ideia de confiança também se ressignifique, visto que buscamos por qualidade nas relações pessoais e de trabalho.
Vale ressaltar que toda essa movimentação, também fica muito próximo de conceito de educação aqui apresentado, e nessa circunstância, somos crianças em transição de potência ao ato o que nos remeteria a ideia inicial do conceito de virtual em sentido primeiro, quando ainda não havia sido reprogramado para atender a área de informática. É o conceito de virtual para o qual Levy (1996) nos chama, não só a atenção, mas também nos convida a uma sutil reflexão em relação ao momento pandêmico que estamos vivenciando:
Se a virtualização for bloqueada, a alienação se instala, os fins não podem mais ser reinstituídos, nem a heterogênese cumprida: maquinações vivas, abertas em devir, transformam-se de súbito em mecanismos mortos. Se for cortada a atualização, as ideias, os fins, os problemas tornam-se bruscamente estéreis, incapazes de resultar na ação inventiva. [...] Todas as transformações são necessárias e complementares umas das outras. (Levy, 1996, p. 140)
E na emergência de toda essa transformação, o que se destaca é o discurso, visto que estamos sobrelevados, momentaneamente, do espaço físico, reconhecemos que a ação é a materialidade do discurso, convencionamos isso aqui apenas para seguir na provocação de que, no distanciamento, o discurso rege a ação de forma tal que materializa essa ação no ambiente digital, há uma realidade lá sendo construída. E é preciso observar o que se faz na ausência do espaço físico, o que se constrói na distância, no universo digital, visto que, no dizer de Arendt (2016, p. 227) há um segundo espaço:
Esse segundo espaço-entre subjetivo, não é tangível, pois não há objetos tangíveis nos quais ele possa se solidificar [...] mas a despeito de toda a sua intangibilidade, o espaço-entre é tão real quanto o do mundo das coisas que visivelmente temos em comum.
E esse espaço não-tangível, por conta da pandemia, passa a funcionar como um espaço de compartilhamento, o que para nós se configuraria, inicialmente, como uma ressignificação da presença por compartilhamento, o que explicaria a utilização da hashtags, principalmente, as do tipo #somostodos, e essa ideia nos remete a algo como estamos juntos; estamos juntos em um universo discursivo, esse é o efeito de sentido criado. Vale lembrar que, para articularmos os eventos pós-pandemia com os pressupostos teóricos da análise do discurso, trabalhamos, inicialmente, com a noção de campos discursivos para observar o que já estamos definindo como sendo um movimento de precessão social, ou seja, um movimento cambaleante em torno do eixo fixo da ideia do que seja presencial, algo com o qual já estamos acostumados a vivenciar, queremos chamar a atenção para o jogo de equilíbrio entre duas forças, presencial e digital, em movimento para uma nova configuração nas suas relações de existência e que impactaria nas relações sociais como um todo. E que essa movimentação nos afeta em termos ainda não compreensíveis, basta que saibamos que um campo nunca é homogêneo (Maingueneau, 2000, p. 19), envolve dominantes e dominados, e ainda, que o discurso no espaço-entre se configura, grosso modo, em um pacote de interesses, e que esses interesses podem funcionar como condições de conexão – vale lembrar que a definição de conexão também está sofrendo ressignificações –, visto que, em precessão social, numa alusão ao conceito na Física, em seu sentido primeiro, (cf. KRAPAS-TEIXEIRA, 1996, p. 176), repousa uma ideia daquilo que precede, uma posição no campo e por consequência uma conexão, que no dizer de Arendt (2016, p. 226) “esses interesses constituem, na acepção mais literal da palavra, algo que inter-essa [inter-est], que se situa entre as pessoas e que, portanto, é capaz de relacioná-las e mantê-las juntas”.
E é no fruir dessas observações, na direção desse cenário ainda em trâmite, que aproximamos nossas análises do contexto da EaD, por entender que em uma disputa de forças, principalmente no universo discursivo, pode haver uma perda existencial e substancial da EaD em relação à educação presencial ou até mesmo da híbrida, visto que, a cada negação do mundo digital, reforçamos a condição limitada do nosso corpo físico, indo na contramão do que postula Lévy (2001, p. 52) “a dialéctica encadeada desde o início da vida entre a interconexão fisiológica e a expansão da consciência acaba de passar a uma nova velocidade”, o que valida ainda mais nossa ideia de um fenômeno de precessão social.
Por um lado, é perfeitamente compreensível que exista tal recuo quando o movimento deveria ser o de avançar em direção ao que Lévy (2001) chama de “a maior aventura humana”, e o mecanismo que nos facilita a compreensão desse recuo é a DT, visto que, para que ela se instaure como sendo categórico de que as relações pessoais e de trabalho sejam percebidas de forma negativa na condição de distanciamento em que a sociedade se encontra, é necessário que se aumente a percepção dessa DT, ou seja, diminui-se autonomia, aumenta-se DT. Importante ressaltar que nosso entendimento do que seja autonomia está relacionada ao campo da filosofia, em seu sentido primeiro que carrega a ideia de responsabilidade, que é a mesma ideia utilizada nos estudos da EaD.
Por outro lado, a questão que levantamos é que, talvez, o que esteja em jogo, não seja qualidade das relações, sejam elas quais forem, tampouco o processo de ensino-aprendizado, no âmbito da educação ou não, mas sim a autonomia dos indivíduos, considerando que é a partir do entendimento do que constitui essa autonomia que chegaremos a uma qualidade nas relações pessoais e profissionais e em um processo de ensino-aprendizado válido. Vale lembrar o conceito de educação que permeia este trabalho, carrega a ideia de criar, guiar, fazer crescer, próximo ao virtualizar-se, ou seja, se relaciona com a ideia de autonomia por nós defendida, um ser responsável que se coloca predisposto para o novo, e o novo nesse processo ameaça uma ordem, já há muito tempo, estabelecida e que envolve forças opostas, visto que, vivemos uma sociedade discursiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo das nossas discussões para a construção deste artigo nos deparamos, diversas vezes, com um quadro ainda turvado para considerações mais precisas, mas o que podemos descrever do fenômeno em curso apresentado aqui como sendo um movimento de Precessão Social, é que ele tem um campo vasto de impacto, visto que aponta em diversas direções, quais sejam: políticas, sociais, econômicas e culturais em um primeiro momento. Aqui tratamos de relacioná-lo ao contexto da EaD, que mesmo tendo o bojo de suas atividades no espaço digital, sofreu e sofre colisões em toda sua extensão de atuação, o que nos levou a olhar, relacionar e monitorar os efeitos da DT nesse âmbito, e ainda nos fez olhar o recorte que escolhemos para observar os impactos nas relações pessoais e de trabalho dentro desse contexto, buscando o fio que desestabilizaria esse cenário, antes em ascensão, e foi então que nos deparamos com a condição da autonomia, agente essencial para o bom funcionamento do universo digital, em estado de achatamento contínuo, fato esse observado principalmente em postagens nas mídias sociais, local em que se investigou também a manifestação dos campos discursivos de acordo com os pressupostos da análise do discurso.
Outro ponto é que tal fenômeno não se inicia com a pandemia, ele já estava em curso, mas se tornou visível a uma análise discursiva após a pandemia eclodir, pois assim como na física, o movimento de precessão exige um processo de muitos anos, não poderia ser diferente em algo que denominamos aqui como sendo uma precessão social, ou seja, já estamos em precessão social há tempos, o que nos cabe agora é mapear esse início para que possamos entender de forma mais clara para qual situação tal movimento leva a sociedade como um todo em todas as suas esferas sociais.
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. A condição humana. Forense universitária, 2016.
CHERMAN, Alexandre; VIEIRA, Fernando. O tempo que o tempo tem. Por que o ano tem 12 meses e outras, 2008.
KRAPAS-TEIXEIRA, Sonia. O Movimento de Precessão na História e no Estudante. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 18, n. 3, 1996.
LÉVY, Pierre. Filosofia world. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.
_______. Inteligência coletiva (A). Edições Loyola, 2007.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução: Carlos Irineu da Costa. 3ª. ed. São Paulo: Editora 34, 1999.
MAINGUENEAU, Dominique. Termos-chaves da análise do discurso. Tradução de Márcio Vinício Barbosa e Maria Emília Torres Lima. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.
_______. Doze conceitos em análise do discurso. Organização: Sírio Possenti. São Paulo: Parábola, 2010.
______. Cenas da enunciação. Orgs.: Sírio Possenti, Maria Cecília Perez de Souza e Silva. São Paulo: Parábola, 2008.
______. Discurso e análise do discurso. Trad: Sírio Possenti. São Paulo: Parábola, 2015.
MAUTNER, Thomas. Dicionário de filosofia. Lisboa: Edições, v. 70, 2010.
MOORE, G. Michael. Teoria da Distância Transacional. In: KEEGAN, D. Theoretical principles of distance education. London: Routledge, 1993, p. 22-38. Disponível em <http://www.abed.org.br/revistacientifica/Revista_PDF_Doc/2002_Teoria_Distancia_Transacional_Michael_Moore.pdf>. Acesso em 10 abr. 2016.
MOORE, Michael G.; KEARSLEY, Greg. Educação a Distância: sistemas de aprendizagem on-line. Tradução: Ez2Translate; revisão técnica Renata Aquino Ribeiro. 3ª ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013.
______. Educação a Distância: uma visão integrada. Trad. Roberto Galman. São Paulo: Thomson, 2011.
[4] Teoria apresentada por Michael Moore (1993) de que na EaD não há uma simples separação geográfica entre alunos e professores, mas sim, uma distância psicológica e pedagógica.
[5] Educação a Distância é o processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, em que professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente. (NRT)
[6] MARTINS, Evandro Silva. A etimologia de alguns vocabulários referentes à educação. 2009.
[7] É um movimento associado ao movimento rotacional de um giroscópio e tem relação com a manutenção do equilíbrio desse dispositivo. Para exemplificar, basta observamos o movimento de um pião, no início ele está rotacionando perpendicular ao chão, com velocidade estável. A medida em que o pião vai perdendo velocidade ele começa a cambalear de um lado para o outro, numa tentativa de manutenção do equilíbrio do seu corpo em relação ao eixo inicial, a esse movimento cambaleante chama-se Movimento de Precessão.
Cf. em https://youtu.be/HmWiqMOJphI
[8] Cf. em http://www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/v18_171.pdf
Educação Ubique: para além do broadcast.
Texto publicado em https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/EL/issue/view/649
E se a relação entre o currículo e a compreensão do estudante não puder ser desenhada como uma estrada linear, de mão única, na qual o currículo determina a compreensão?
(Elizabeth Ellsworth, p.69, 2001)
O debate sobre a educação no Brasil é sempre um terreno de múltiplas perspectivas: econômico, político, social, cultural entre outras. A proposta deste artigo é refletir, considerando, além dos pontos apresentados, um modo sistêmico de pensar a educação, perpassando esse olhar por outras disciplinas. E ainda, há de se considerar também, o senso comum, que permeia o indivíduo do dia a dia, buscando, com isso, entender os motivos possíveis que podem estar intrincados ao entendimento do que seja o educar no processo de melhoria educacional e de formação do cidadão brasileiro.
O Brasil é um país de dimensões continentais. Essa afirmativa para quem busca tratar do tema Educação a distância é condição sine qua non, principalmente após a pandemia, para se pensar em melhorias no cenário educacional. Setores como economia, cultura e saúde precisaram se reinventar, precisaram levar em consideração caminhos alternativos para dar conta dos novos contextos que foram surgindo ao longo de dois anos de distanciamento social – entende-se por distanciamento social a situação do trabalho remoto e a educação a distância.
No âmbito da economia as techs se consolidaram com as Fintechs e Edtechs, o trabalho remoto ganhou força e as relações no ambiente de trabalho precisaram, também, se reinventar por meio da utilização de aplicativos como o Zoom, o Teams e o Google meet. Na área da saúde os atendimentos on-line se fizeram mais presentes, principalmente no campo da saúde mental; a cultura encontrou nas lives[3] uma nova maneira de levar a arte até sua plateia. Todas essas mudanças trouxeram reflexões sobre o estar presente, sobre o vínculo, sobre engajamento, sobre o tempo e sobre o espaço; e o educar a distância alçou voos para além do ensino, fez-se necessário formar o indivíduo para lidar com tantas mudanças, até com um novo jeito de exercer sua cidadania: a digital.
A origem do termo cidadão vem do latim civitas que significa cidade, e digital também tem sua raiz no latim digitalis, ou seja, tem-se aí uma cidade relacionada aos dedos. Adentra-se no universo digital com os dedos, é o início de um novo modo de perceber outros “lugares”, outros “espaços” e um novo modo de conexão e de criação de vínculos.
Diante de todo esse cenário o educar a distância, se torna argumento base quando se trata de defender um conceito mais ubique de educação, principalmente pós-período de pandemia em que, para dar conta de uma situação emergencial, institui-se no país – de dimensões continentais – como alternativa para que as escolas e universidades não interrompessem com suas atividades, sob diferentes nomes, o ensino remoto, ensino on-line, educação a distância, aula web, aula on-line, ensino a distância síncrono ou assíncrono e ensino híbrido. Diversos nome para um educar que precisava estar em toda parte, que precisava estar ubique[4].
Todas são modalidade de um conceito ubique de educar, ou seja, está tudo a distância, e a proposta que carrega este artigo é uma noção de uma cidadania ubique atenta às especificidades do universo digital, sem, no entanto, desconsiderar que não há digital sem o analógico. Válido lembrar que a ideia de velocidade discutida em PENALBER (2022) é o ponto de intersecção que une uma nova forma de pensar diante de tantas tecnologias digitais e de um novo território a ser desbravado, sem fronteiras e com uma nova noção de espaço, distância e tempo.
Neste mundo, e até também fora dele, nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem limitação não ser uma só coisa: uma boa vontade. (Kant. p. 21, 2019)
O conceito de educar ubique refere-se à ideia de que a virtualização do indivíduo pode e deve estar em qualquer lugar. Quando aplicado à educação, esse conceito implica em disponibilizar oportunidades de aprendizado em todos os lugares, a qualquer momento e para qualquer pessoa. No caso de um país como o Brasil, com extenso território e de difícil acesso geográfico em alguns estados, a educação ubique busca superar as barreiras físicas e geográficas, utilizando a tecnologia e as plataformas digitais para levar o conhecimento a qualquer pessoa, independentemente de sua localização. Isso é especialmente importante em um mundo cada vez mais conectado, em que a informação precisa estar amplamente disponível “na ponta dos dedos”.
Com o modelo de uma educação mais ubique, o acesso ao conhecimento não fica mais limitado por fatores como distância, recursos limitados ou falta de instituições educacionais. Através de dispositivos móveis, computadores e conexões de internet, é possível acessar cursos online, materiais de estudo, tutoriais e aulas ao vivo, ampliando, assim, significativamente as oportunidades de aprendizado.
Além disso, uma noção mais ubique de educar promove um maior alcance do processo de aprendizagem, visto que o indivíduo pode aprender no seu próprio ritmo, escolher as áreas de interesse que deseja explorar e ter acesso a recursos educacionais adequados às suas necessidades específicas. Isso permite uma abordagem mais individualizada e flexível da educação, permitindo que cada pessoa desenvolva seu potencial ao máximo.
Porém, é importante ressaltar que a educação ubique não implica em uma dissociação da educação presencial, ao contrário, é uma forma de unir as duas modalidades, reconhecendo, com isso, o processo de formação do indivíduo como algo inerente à sociedade e que acontece o tempo todo e em todo lugar, ou seja, a interação humana é condição sine qua non para o desenvolvimento do Ser, e isso não está ausente no jeito ubique de educar, pelo contrário, nessa modalidade a territorialidade se esvai, e as fronteiras para o conhecimento e o saber aumentam; haja visto que a troca de ideias e a construção de relacionamentos são aspectos valiosos do processo educacional que ocorrem também a distância, porém por meio de outras formas de interação.
Fato é que, o conceito ubique de educar representa a expansão das fronteiras tradicionais da educação, perpetuando a ideia presente em JAEGER (2013):
A educação participa na vida e no crescimento da sociedade tanto no seu destino exterior como na sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual e uma vez que o desenvolvimento social depende da consciência dos valores que regem a vida humana a história da educação está essencialmente condicionada pela transformação dos valores válidos para cada sociedade. (p. 2, Jaeger, 2013)
Em outras palavras, não fazer diferenciações entre as modalidades presencial e a distância, analógica ou digital, e reconhecer que todo esse processo de educação é ubique, oferece oportunidades de aprendizado acessíveis e flexíveis a todos, em qualquer lugar e a qualquer momento. É uma abordagem que valoriza a tecnologia como uma ferramenta poderosa para democratizar o conhecimento e promover a aprendizagem ao longo da vida.
Por outro lado, investir em tecnologias e infraestruturas não é suficiente para o conceito ubique de educar, visto que, quem deve estar no centro de tantas transformações não é a ferramenta, mas sim o indivíduo, que deve se tornar sujeito capaz de lidar com e entender os impactos tecnológicos na sociedade de modo geral.
Assim o princípio que norteia a elaboração de uma educação mais ubique, considerando-se o contexto do Brasil, se encontra no mesmo ponto – psicanalítico – apontado por CALLIGARIS (2000) quando busca entender a origem para a expressão “este país não presta”, ou seja, se assenta na relação que o brasileiro parece não ter com seu país: a de um cidadão.
[...] Pouco importam, com efeito, as razões que cada um agrega para justificar que o país não presta [...] De onde será que se pode dizer “Este país não presta”? A frase pareceria natural, se fosse um estrangeiro, mas como enunciação dos brasileiros mesmos, ela surpreende. Parece-me que um europeu poderia afirmar que um governo não presta, que a situação econômica não presta ou mesmo que o povo não presta. Mas dificilmente diria que seu país não presta. Deve haver alguma razão que coloca os brasileiros com respeito à própria identidade nacional, em curiosa exclusão interna que permite articular a frase que me interpela. Esta razão não deve da tarde hoje. [...] (grifo nosso) CALLIGARIS (2000, p. 13)
Nosso processo educacional falha para muitos devido a uma herança histórica (inconsciente) de estarmos numa relação que não queremos estar com nossa pátria, tal qual a do colonizador, colono e colonizado apontado por CALLIGARIS (2000) considerando suas posições subjetivas no cenário de construção de uma identidade nacional.
[...] o colonizador é aquele que veio impor sua língua a uma nova terra [...] para exercer a potência paterna como se fosse a sua, teve que deixar o corpo da mãe pátria [...] ele tem com o país enquanto corpo uma cobrança que lhe permite dizer “esse país não presta” [...] (p. 16-19, 2000)
O colono é quem vindo para o Brasil, viajou para outra língua, abandonando a língua materna [...] procura aqui, numa outra língua, um novo pai que o interdite, certo, e de repente o reconheça (p. 20, 2000) (grifo nosso)
Não nos reconhecemos como capazes de entender nossa própria condição no cenário educacional, vagamos entre o colonizador e o colono sem uma identidade e buscamos por modelos cujas raízes nem sempre vão dialogar com a realidade do Brasil, como país-continente, em uma espécie de neurose crônica entre ser/reproduzir o que está de fora ou ser/construir a partir do que está dentro.
Se assim é, retoma-se a ideia primeira que levou a um pensar mais ubique no que tange a educação, no Brasil, quando se considerou o dizer de KANT (2019) acerca da autonomia no qual se entende que: “Autonomia é, pois, o fundamento da dignidade da natureza humana e de toda a natureza racional” (2007, p. 79). Dito de outro modo, a autonomia precisa estar associada à vontade, não ao dever, visto que dever implica, de certo modo, em obrigatoriedade, ou seja, o sujeito brasileiro precisa se desenvolver como cidadão do seu país, por vontade – sair da condição de colonizado, para então dar vazão à virtualização do sujeito resultado de cenários específicos tal qual é a nação brasileira.
Tal noção se desenvolve a partir de todo um percurso para o entendimento do termo autonomia, tendo em vista a observação da ética, dos direitos e da responsabilidade na constituição do indivíduo perante a sociedade, ainda que idealizada – importante lembrar que a ideia presente no conceito Ubique de educar, passa pela de virtualização do indivíduo, ou seja, não há diferença entre educação presencial e a distância, tudo é educação no amplo sentido da formação do sujeito, implicando, inclusive as questões morais.
Uma educação consciente pode até mudar natureza física do homem e suas qualidades, elevando-lhe a capacidade a um nível superior. Mas o espírito humano conduz progressivamente a descoberta de si próprio e cria pelo conhecimento do mundo exterior e interior formas melhores da existência humana. A natureza do homem na sua dupla estrutura corpórea espiritual cria condições especiais para a manutenção e transmissão da sua forma particular e organizações físicas e espirituais ao conjunto dos quais damos o nome de educação. [...] Na educação como o homem a pratica, atua a mesma forma vital criadora e plástica que espontaneamente impede todas as espécies vivas a conservação e propagação do seu tipo. É nela porém que essa força atinge o mais alto grau de intensidade através do esforço consciente do conhecimento e da vontade dirigida para a consecução de um fim, (Jaeger, p.2, 2013)
Assim, considera-se três pilares na constituição do conceito Ubique de educar, sendo que o primeiro pilar se encontra no conceito de Autonomia apresentada por Kant.
Autonomia do indivíduo: A educação ubíqua deve se basear no princípio da autonomia, reconhecendo e respeitando a liberdade e a capacidade do indivíduo de buscar seu próprio conhecimento. Isso implica na promoção de um ambiente educacional que encoraje a autonomia intelectual, o pensamento crítico e a busca ativa pelo conhecimento, permitindo que os estudantes assumam o controle de seu próprio processo de aprendizagem considerando as noções de vontade e dever kantianas.
O segundo pilar está no aprendizado contínuo:
Aprendizagem ao longo da vida: A educação ubíqua reconhece que a aprendizagem não se limita apenas aos anos formais de educação, mas deve ser um processo contínuo ao longo da vida. Essa perspectiva enfatiza a importância de desenvolver habilidades de aprendizagem autodirigida, adaptabilidade e curiosidade (perfil pesquisador) intelectual, para que os indivíduos possam continuar aprendendo e se atualizando ao longo de suas vidas.
E o terceiro pilar está em um novo modo de perceber tempo, espaço, distância, presença e vínculo: conexão
Conexão com o mundo real: a educação ubique busca estabelecer conexões significativas entre o conhecimento adquirido e o mundo real. Os pilares filosóficos incluem a aplicação prática do conhecimento, a resolução de problemas do mundo real e o engajamento com questões sociais, culturais e ambientais. Isso envolve conectar o conteúdo educacional com situações e contextos do mundo real, permitindo que os estudantes compreendam a relevância e a importância do que estão aprendendo.
Esses princípios orientam a forma como a educação é concebida e como deve ser implementada, proporcionando, assim, uma base sólida para uma experiência educacional abrangente e significativa quando o pensar é mais ubique. Vale ressaltar que os parâmetros para o desenvolvimento de uma educação mais ubique está em consonância com as diretrizes preconizadas nas 10 competências gerais preconizadas na BNCC[5] das quais destaca-se algumas:
Conhecimento – valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre os mundos físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade. Continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
Pensamento científico, crítico e criativo – exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
Cultura digital – compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
Autonomia – agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. (Fonte: BNCC)
Nossos alunos mudaram radicalmente. Os alunos de hoje não são os mesmos para os quais o nosso sistema educacional foi criado (PRENSKY, 2001, p. 1).
Ao se considerar as competências gerais apresentadas na BNCC, vale citar Prensky (2001) e apontar para algumas das diferenças entre os nativos digitais e os imigrantes digitais, contribuiu, no hoje, para o entendimento do lugar em que nasce a ideia de uma educação mais ubique. Contribuiu, também, para o entendimento do que se tem hoje, definido aqui, como sendo o e-migrante digital dado ao movimento contínuo que o faz circular entre o universo analógico e o universo digital. No quadro 01, a seguir, tem-se um comparativo entre os nativos e os imigrantes digitais sob a perspectiva de PRENSKY (2001). E no quadro 02, apresenta-se o que seria o e-migrante digital na perspectiva desse artigo:
Quadro 1 – Nativos digitais vs imigrantes digitais
Nativos Digitais:
Gostam de receber informações muito rapidamente
Preferem acesso aleatório (como hipertexto).
Gostam de processar mais de uma coisa por vez
Gostam de realizar múltiplas tarefas
Preferem gráficos antes do texto
Preferem jogos
Trabalham melhor ligados a uma rede de contatos
Imigrantes Digitais:
Têm pouca apreciação por estas novas habilidades presentes nos nativos digitais
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Fonte: baseado em PRENSKY (2001)
Sabe-se que Migrante é todo indivíduo que se desloca do seu lugar habitual, seu local de nascimento para outro lugar, região ou país. Dado o contexto ubique das reflexões apresentadas neste artigo, o lugar a que se refere é, também, o digital.
Quadro 2 – e-Migrantes digitais
Buscam conteúdos de exposição rápida
Possuem essência horizontalizada
Informação + Conhecimento = Saber
Transitam em cenários de menor hierarquia
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Fonte: elaborado pela autora
O quadro 2 apresenta o e-migrante digital como sendo um perfil constituinte do pensamento presente no conceito ubique de educação, ainda em construção, mas que já aponta para um entendimento mais amplo e assertivo acerca da educação on-line, digital, remota e de tantas outras definições para quando o educar se dá a distância.
A educação Ubique pode e deve ir além do broadcast ao desafiar as concepções tradicionais de aprendizado e promover uma visão mais ampla e integrada do conhecimento, pois já iniciamos o processo de sermos todos e-migrantes digitais. Levar em conta que a descentralização do conhecimento implica em reconhecer que o conhecimento não está mais centralizado em um único local ou instituição. E que dado a isso, é fundamental valorizar a diversidade de perspectivas e conhecimentos distribuídos em diferentes comunidades, culturas e experiências. Assim, vai além do broadcast – ao permitir que os estudantes acessem uma variedade de fontes e desenvolvam uma compreensão mais abrangente do mundo.
Outro ponto essencial é a autonomia dos sujeitos sob a perspectiva kantiana quando da oposição dever vs vontade; visto que, deve-se dar atenção a responsabilidade do indivíduo no processo de aprendizado; dessa forma, um educar ubique encoraja a autorreflexão, o pensamento crítico e a construção ativa do conhecimento, em vez de meramente transferir informações ou fazer curadoria de dados para gerar conhecimento, é preciso promover o Saber. Isso implica em aceitar que o processo de ensino-aprendizagem não é apenas um transmitir e organizar informações, mas correlacionar diferentes conhecimentos, e por conseguinte, saberes – de modo a se ter um constante e contínuo aprendizado a respeito da sociedade multidisciplinar na qual se vive.
Vale ressaltar que para que o aprendizado seja constante e ativo, é importante que as conexões não sejam apenas interdisciplinares, mas também transdisciplinares. No entender da educação Ubique, buscar transcender as fronteiras disciplinares e integrar diferentes áreas de conhecimento, criar o conhecimento significativo, visto que, enfatiza a interconectividade e a interdependência dos assuntos, incentivando o indivíduo a fazer conexões entre diferentes áreas de estudo e a explorar abordagens multidisciplinares, de forma a promover uma compreensão mais integrada do mundo, desenvolvendo com isso o saber.
Vale destacar que a noção de que o aprendizado não é limitado a um período específico da vida, mas é um processo contínuo e ao longo da vida, promove a busca constante por conhecimento, o desenvolvimento pessoal e a adaptação às mudanças em um mundo em constante evolução – saber. E isso implica reconhecer que a educação vai além das instituições formais de ensino e se estende a experiências informais, autodidatismo e aprendizado em contextos do dia a dia.
Pensar de forma mais ubique não é só um convite para repensar as abordagens educacionais e a explorar novas formas de aprendizado que estejam em sintonia com as demandas e os desafios do mundo contemporâneo, mas é principalmente a busca de uma formação mais plena do cidadão brasileiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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KANT, Immanuel : tradução QUINTELA, Paulo. Fundamentação da metafísica dos costumes. Textos filosófico, eduções 70, 2019.
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_______. Cibercultura. Tradução: Carlos Irineu da Costa. 3. ed. São Paulo: Editora 34, 1999.
_______. Filosofia world. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.
_______. A inteligência coletiva. São Paulo: Loyola, 2007.
_______. Doze conceitos em análise do discurso. Tradução: Sírio Possenti, Maria Cecília Perez de Souza e Silva; trad.: Adail Sobral. São Paulo: Parábola, 2010.
_______. Análise de textos de comunicação. Tradução: Maria Cecília P. de Souza e Silva, Décio Rocha. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2013.
_______. Discurso e análise do discurso. Trad: Sírio Possenti. São Paulo: Parábola, 2015.
_______. Retorno crítico à noção de ethos. Letras de Hoje, v. 53, n. 2, p. 321-330, jul./set. 2018. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1984-77262018000300321&script=sci_arttext&tlng=pt#B5>. Acesso em: 11 jan. 2022.
MARTINS, Evandro Silva. A etimologia de alguns vocabulários referentes à educação. Olhares & Trilhas, v. 6, n. 1, p. 33, 2005.
PENALBER. Mônica. Movimento de Precessão Social – Ead, Distância Transacional e Pandemia: uma Análise Discursiva. Linguagem em perspectiva [recurso eletrônico] : língua, literatura, ensino / organização José Gaston Hilgert ... [et al.]. - 1. ed. - São Paulo : Pá de Palavra, 2021.
Silva, Tomaz Tadeu da Nunca fomos humanos – nos rastros do sujeito/ organização e tradução de Tomaz Tadeu da Silva --- Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
[1] Publicado em https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/EL/issue/view/649
[2] Idealizadora do Projeto Ubique Educacional, membro do Grupo de Estudos Transdisciplinares e Análise do Discurso (GETAD)
[3] Transmissão ao vivo – vídeo e áudio, realizada normalmente em redes e/ou plataformas sociais como Instagram e Youtube
[4] Adv. lat. ‘em toda parte’, com desin. de adj. Que está ao mesmo tempo em toda parte.
[5] Cf. em http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf